terça-feira, 17 de maio de 2011

Quatro Estações (ou o início de uma história)



Foi num dia de Outono que te vi pela primeira vez.
Aguardava, à porta da sala, mais uma aula quando passaste por mim, sem olhar, seguindo o teu caminho. Trazias um blazer azul-escuro e carregavas uma pasta na mão. Desde esse dia, não mais os meus olhos deixaram de te procurar – em cada sala, em cada corredor, em cada esquina, na rua ou em qualquer outro lugar. Aparentavas ser homem dos seus trinta e poucos anos. De poucos sorrisos, de poucas falas. Ar sério e compenetrado, como quem não tem tempo a perder. Tal como eu, gostavas de fumar o teu cigarro nos intervalos das aulas, quase sempre sozinho. Creio que foi num desses momentos que reparaste que eu existia e os nossos olhares se cruzaram pela primeira vez, para não mais deixarem de o fazer. Agora, já não era apenas eu quem te procurava. Tolice minha ou realidade, sentia que também tu me procuravas, ainda que só com o olhar.


Foi num dia de Inverno que te conheci. 
Tinham começado as férias do Natal e eu sabia que ia passar quinze dias sem te ver. Em busca de algum ânimo, resolvi convidar uma amiga e sair para beber um copo, dançar, esquecer por algumas horas o que não me saía do pensamento. No caminho para o bar a que tínhamos decidido ir, parámos numa passadeira a aguardar o sinal verde para os peões. E tu passaste. E paraste. Foi aí, naquele lugar, àquela hora, que trocámos as primeiras palavras, para não mais deixarmos de o fazer. Passámos a noite juntos, no tal bar, a conversar. Levaste-me a casa. Beijámo-nos. Agora tinha a certeza que não só os meus, mas também os teus olhares não eram inocentes. Agora tinha a certeza que não só eu, mas também tu me procuravas, e agora mais do que apenas com o olhar.


 Foi num dia de Primavera que te amei.
Quando me disseste que não podia ser e que era impossível alimentar um qualquer amor para além de uma fugaz paixão eu já não conseguia imaginar os meus dias sem ti, ainda que naquela altura ainda não o tivesse percebido. E foi assim, com a ingenuidade característica de quem nunca amou, que passei a evitar-te, que passei a rejeitar-te, pensando que era possível, mal sabendo que esse mesmo comportamento era em si bem revelador do que eu já sentia. Não te queria ver ou atender o telefone quando do outro lado eras tu quem me ligava. Vinhas à minha porta e eu não abria. Chamavas-me nos corredores (esses mesmos corredores que há meses atrás haviam presenciado a nossa primeira troca de olhares) e eu não respondia. Depois, naqueles dias em que me sentia mais vulnerável, aceitava-te. Encontrávamo-nos, conversava-mos, de tudo, de nada, de nós e do nós que nunca poderia existir. Ao fim do dia eu regressava a casa sentindo um misto de felicidade e de culpa. E os dias sucediam-se.


Foi num dia de Verão que percebi que te amava.
As aulas tinham acabado e eu regressava à minha terra para umas férias, aos meus olhos, demasiado longas. Sentia a tua falta. Sentia demasiado a tua falta. Falávamos muito, mas eu queria ver-te, dar-te um abraço. No meio do nada, entre despertares madrugadores e passeios ao pôr-do-sol, acordei e encarei a realidade, a dura realidade que vinha escondendo de mim própria. Aquele meu comportamento - o toca e foge, agora quero, depois já não, agora vem, para depois te mandar embora - não podia ser o de alguém que vive a situação com o desprendimento que eu vinha querendo acreditar que existia. A verdade é que eu te amava. Se assim não fosse, já teria recuado perante o sofrimento que ameaçava assolar tantos dos meus dias futuros. A verdade é que eu já não conseguia passar um dia sem te ver, sem ouvir a tua voz. A verdade é que eu sabia que esse amor viria inevitavelmente acompanhado de dor e procurava fugir dele (e dela) não pensando. Mas era tarde demais. Tinha vindo para ficar. Não me perguntem porquê, mas eu sabia e estava muito certa de que eras o tal, o único, aquele que dizem que só se vive uma vez.
  
Passaram quase seis anos desde então…

7 comentários:

Teté disse...

A vida é plena de surpresas e o que à partida parece impossível... nem sempre é! O tempo passa, as situações mudam, mas quando duas pessoas se amam de verdade, difícil é mantê-las separadas... :)

KarenB disse...

Teté:

Antes de mais, muito obrigada pela tua visita!!! És muito bem-vinda!!

Foi exactamente o que aconteceu. Parecia impossível durante muito tempo, anos mesmo! Mas o amor, porque genuíno, foi mais forte e superou todos os obstáculos.

Beijinhos e volta sempre! :)

KarenB disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J. disse...

os seis anos mais felizes da vida do teu amor, certamente...

Joana Castro disse...

Quando é verdadeiro, aguenta tudo :)

KarenB disse...

J., quero acreditar que sim...

KarenB disse...

Maria Joana,
Tens toda a razão. E eu nem contei a melhor parte... que é como quem diz, omiti os pormenores "sórdidos". Mas superou-se, é o que interessa!

Beijinhos e obrigada ;)