segunda-feira, 18 de julho de 2011

O que penso e não (te) digo




Sem (querer) pensar, pensei.  
Pensei e penso muitas vezes em ti. Não há dia que me não venhas ao pensamento. Não há noite em que adormeça sem te recordar, sem nos recordar, os nossos momentos, as nossas conversas, o nosso sentir do antigamente. Mas não quero pensar, porque me magoa, porque a cada vez que te lembro e aos teus abraços, é mais uma brecha que se abre nesta ferida que não sara.
Sem falar (o que queria), falei.
Falei e disse o que pude, porque mais não me permitiste. Não me deste sequer a oportunidade de apresentar as minhas justificações, se as mesmas existissem. Falei, mas o que disse na altura não é o que diria agora. Falei, mas falei pouco. Não falei o suficiente para te admitir que errei, apenas pedi desculpa sem  entender muito bem porque o fazia. Hoje entendo, e queria dizer-te mais.
Sem escrever (para ti), escrevi. 
Escrevi e escrevo sempre que a vontade de te falar hoje, agora, sempre que a saudade aperta mais um pouco. Escrevo e finjo que me lês. Ensaio diálogos, possíveis respostas, que sei que não obterei tão cedo ou mesmo que não obterei. Mas não escrevo para ti, não penses. Escrevo para mim. Magoaste-me tanto que não te daria esse conforto, que guardo só para mim - o conforto de saberes o que sinto, e o que sinto por ti (se bem que ainda acredito que o saberás...).
Sem perdoar (porque não esqueço), perdoei.
Perdoei desde sempre, porque de outro modo não poderia ser. O que nos liga é demasiado forte, demasiado sagrado, demasiado intrínseco a cada um de nós para que assim não fosse. Se guardo ressentimento? Ainda guardo. Não consigo compreender o que te levou a agir de tal forma. Procuro inverter os papéis, recuar atrás no tempo e lembrar-me de quem és, como és e não entendo, porque nada em ti faria prever um tal comportamento.
Magoa-me que hoje, pai, não saibas quem sou.
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agora, e para não vos deixar a todos meio deprimidos logo à segunda-feira com o que acabei de escrever, alguém adivinha onde é que a foto foi tirada? lá, é muuuuito fácil!

16 comentários:

João Roque disse...

Texto muito pessoal, triste mas muito belo, amargurado mesmo.
Não faço a menor ideia do local da foto; deixa-me adivinhar: é algures junto ao mar...(hehehe)...

Capuxa disse...

Olááááááá...
fiquei feliz pela tua visita no meu cantinho que, tanto é simpático cmo politicamente incorrecto! :)

ora bem, perante o que acabei de ler, lembrei-me de um trava-línguas que a minha bisavó costumava cantarolar! Dedico-o a ti:

Se tu pensas que em ti penso,
Se pensas assim, pensas mal,
Pois eu não penso em ti
Nem penso em pensar em tal.

beijinho*
ah, e estás adicionada à minha lista;)

Anónimo disse...

É curioso como as palavras se prendem, quando as desejamos soltar.
Um gde beijinho

Não faço ideia onde tiraste esta foto, mas é certamente à beira mar...de uma praia no teu sul.:)

maria disse...

Pensas e não dizes...será que se dissesses o que pensas te iriam entender???

Nem de propósito...hoje falo sobre pensamentos :)

Beijinho :)

*Não sei onde tiraste a foto, mas vais dizer-me, né? eheh

KarenB disse...

Olá Xaninha!!!

Sê muito bem-vinda!!!
Politicamente incorrecto?! Não me digas que voltei outra vez a abusar na quantidade de comentários? :P

Trava-línguas? Adoro! Sei imensos e, não sei porquê, tenho muito jeito para os recitar, nunca me baralho. Este não conhecia, mas obrigada por me dares a conhecer. Quanto ao conteúdo, adequa-se, claro.

Beijinhos!!
E muito obrigada pela visita, que tem tanto de simpática como de politicamente correcta! :)

KarenB disse...

Bem, até agora ninguém acertou...
E se eu disser que junto a este pequeno banco, existem umas furnas com inscrições de ditados populares, ajuda?

Beijinhos a todos e não se esqueçam: "Quem navega sem destino, nenhum vento é favorável".

Depois respondo aos comentários individualmente.

ψ Psimento ψ disse...

Não vou dizer que sei o que sentes porque isso nunca ninguém sabe, cada um sente as coisas à sua maneira. Mas vou dizer-te que me revejo nas tuas palavras. Mas não sinto pena, nem vontade de perdoar palavras imperdoáveis que foram ditas. Sinto vontade de o superar em tudo e vou conseguir, já consegui na verdade. Fácilmente. Vou mostrar-lhe que sou uma pessoa melhor que ele e sei que tarde ou cedo, me virá bater à porta.. e aí, aí logo se vê...

KarenB disse...

Pinguim,

Pareceu-te amargurado o texto. E é-o, de facto.
Procurei ser contida nas palavras, nem sei bem porquê...
Faço um esforço grande para conter a minha revolta, mas quando em vez acaba por vir ao de cima.

E sim, a foto foi tirada junto ao mar, claro. Eheheheh

Beijinhos

KarenB disse...

Nina,

Inicialmente as palavras não se prendiam, ai não!
Entretanto, o tempo passou, muito tempo aos meus olhos passou e... hoje, resta uma mágoa muito grande, que me tem feito não querer pensar no meu pai, que me tem feito não querer falar no assunto (e muito raramente o faço), que me tem feito sentir como se as palavras estivessem "presas" cá dentro. Até escrever sobre isso é muito difícil para mim.
Não sei como será um dia quando o reencontrar... Quer dizer, a primeira reacção da minha parte até sei qual vai ser, conheço-me bem e sei que o coração, a emoção falarão mais alto. O mais difícil mesmo vai ser depois...
Enfim...

Por acaso a foto não foi tirada no meu sul... Até isso procuro evitar - ir "ao meu sul". Foi tirada aqui bem perto de Lisboa.

Beijinhos

KarenB disse...

Maria,

Tens toda a razão na questão que colocas.
Provavelmente não me iria entender... O meu pai mudou tanto, ou melhor, a vida mudou-o tanto... Eu cresci tanto... Não sei mais se nos conseguiremos perceber um ao outro, ou se ele me conseguirá perceber a mim...

Quanto a foto, claro que vou dizer, mas mais daqui a pouco ;) eheheh

Beijinhos

KarenB disse...

Psimento,

Quando li aquele último post lá no teu blog em que falas das tuas notas e da reacção do teu pai, também me revi no que se passa contigo, como te disse na altura.
Pelo que foste dizendo nos comentários a esse teu post e relativamente ao que aqui escrevi, também calculei que te reverias de certo modo nas minhas palavras.

Por razões diferentes, ambos temos uma relação difícil com os nossos pais (e falo só da figura paterna, claro). A nossa atitude perante as situações é também ela diferente.

Sabes, sou uma pessoa que procuro sempre arranjar razões para "desculpabilizar" as atitudes dos outros - melhor, daqueles que são muito meus (não é qualquer pessoa, não penses!): ou porque a vida os maltratou, ou porque a sua condição, fruto da educação que tiveram, por exemplo, não lhes permite ser melhores, enfim... E com isso, tenho uma capacidade enorme de perdoar os erros das pessoas.
Claro que não me esqueço das coisas más que me fizeram, claro que isso só me faz estar um pouco preparada para enfrentar mais "água que venha a correr debaixo da ponte", claro que nada volta a ser como dantes... Mas sou assim, e é assim que me sinto bem comigo própria.
Se quero ser uma pessoa melhor do que o meu pai? Penso que já sou, por pensar exactamente da forma que penso.

No entanto, compreendo igualmente que possas não pensar da mesma forma que eu. Além disso, cada situação é uma situação e eu não sou ninguém para julgar seja quem for.

Acho apenas que não devemos alimentar sentimentos de rancor e até de uma certa "vingançazinha". E sabes porquê? Não é por fazer de ti uma pessoa pior. É porque só te faz mal a ti pensares assim. Até pode servir como método de defesa, e servirá, certamente, mas poderá igualmente haver uma altura em que a tua forma de pensar fará com que te recrimines. Talvez já tenhas passado por isso e ultrapassado. Se sim, tanto melhor.

Enfim, são coisas da vida...
Lamento pelo teu sentir, porque compreendo muito bem o que sentes e sei o quanto magoa.

Como penso que te disse na altura, creio que temos mais é de viver as nossas vidas e encontrar o nosso próprio núcleo (falo da nosso próprio lar - um companheiro, filhos...) e tentarmos ser felizes apesar de todas as "mossas".

Beijinhos grandes para ti ;)

Teté disse...

Por vezes afirma-se que há gente muito má, que abandona os seus velhinhos ao Deus dará ou atirando-os para um lar. O que raramente se diz é que alguns desses "pobres" velhinhos muitas vezes passaram a vida a infernizar a vida daqueles que os rodeavam, até estes se conseguirem afastar de vez...

Não são um, dois ou três casos que conheço, são vários. Claro que por vezes a situação pode ser ultrapassada, mas o ressentimento por palavras amargas fica. Há um provérbio chinês que afirma: "A flor cortada não volta ao ramo".

Quanto ao banquinho nas rochas junto ao mar, não faço ideia onde se situa.

Beijocas para ti!

KarenB disse...

Teté,

Apesar da amargura que sobressai das minhas palavras, sei que sou um coração "mole" e que seria incapaz de abandonar os meus, por muito que me tenham infernizado a vida e venham ainda a fazê-lo. Não digo "desta água não beberei", mas acredito piamente que a vida teria de me mudar muito para vir a ter uma atitude dessas. Para mim, seria uma mudança para pior, quando me esforço todos os dias para mudar exactamente no sentido oposto.
Mas enfim... como dizes, os casos de que falas, talvez não os compreendesse antes. Hoje compreendo, e compreendo que nem todos pensem da mesma forma que eu.

Não mais me vou esquecer do provérbio que referiste. Tantas vezes quero dizer isso mesmo, usando outras palavras que tão bem ilustradas ficam desta forma. Obrigada!

Um beijinho para ti.

KarenB disse...

E ninguém adivinhou onde tirei a foto... Pois foi na Ericeira!

Beijinhos para todos e obrigada pelos vossos comentários sempre!

Sapo disse...

Cheguei tarde de mais para adivinhar o local, contudo também não conhecia. Quanto ao teu texto que na minha opinião tem tanto de belo como de pessoal, devo dizer-te que me identifico plenamente (como em tantas outras coisas que já constatei). Também tenho uma relação complexa com o meu pai que recusa aceitar a verdadeira natureza do seu filho. Ainda hoje luto por tentar construir alguma coisa com ele, mas não é fácil. Às vezes pergunto-me se todo o esforço valerá a pena, se ele algum dia "dobrar-se-á" um pouco em prol não só de mim, mas dos outros. Um beijo (já tinha saudades de deixar cá duas palavrinhas).

Até já

KarenB disse...

Sapo,

É engraçado como também me identifico contigo em inúmeras coisas, aliás, acho que já te tinha dito. As coincidências entre nós parecem não acabar...

Neste caso, lamento profundamente que te identifiques comigo, preferia que me dissesses exactamente o contrário. E lamento porque sei o quanto dói sentir-me como me sinto em relação ao meu pai, que sempre foi (até ao dia em que deixou de o ser) o meu pilar, o meu porto de abrigo, o meu grande confidente.
Lamento que o teu pai pense desse modo em relação a ti, lamento muito mesmo. Sei a falta que faz um pai amigo, um pai presente, um pai que compreende e aceita.
Mas sabes, quando perguntas se vale a pena, eu acho que sim. Se isso te fizer sentir melhor, se fizer com que te sintas melhor contigo próprio, então já valeu a pena. Podes chegar ao fim e dizer que não conseguiste, mas saberás que tentaste tudo o que estava ao teu alcance, porque era demasiado importante para que não o fizesses, e saberás que foste melhor do que o teu pai, exactamente por isso - porque o perdoaste pelas suas atitudes, em nome de um amor maior.

E olha, tens de conhecer a Ericeira!

Beijinho grande.