terça-feira, 12 de julho de 2011

O fado não se acompanha com palmas!


Como cá em casa não somos excepção e a crise também se vai fazendo sentir, eu e o meu marido, que tanto gostamos das nossas saídas nocturnas, de jantar fora e sair com os amigos, ultimamente, com as finanças pelas ruas da amargura, temos procurado programas alternativos para ainda assim desanuviar um pouco a mente e os olhos dos noticiários que nos enchem a casa de más notícias todos os dias.
Assim, no passado dia 30 de Junho, lá fomos até à Alameda D. Afonso Henriques, que por sinal fica quase aqui ao lado (até na gasolina conseguimos poupar!), assistir ao concerto de encerramento do programa das Festas de Lisboa deste ano. Estava uma fantástica noite de Verão e ouvir fado debaixo de um manto de estrelas, abraçados ao nosso "mais que tudo", só pode ser um bom programa. O concerto em causa contou com a presença de três incontornáveis referências no mundo do fado - Cristina Branco, Camané e Carlos do Carmo, a que se aliou a Orquestra Metropolitana num momento único de celebração. Ora, num ano em que ainda se há-de decidir a candidatura do Fado a património cultural imaterial da Humanidade, foi uma bela e justa homenagem.
Pessoalmente gostei do concerto. Teria gostado ainda mais, não fossem as palmas constantes da plateia a acompanhar os fados mais ritmados. Não sei porquê, mas sempre me disse a minha sensibilidade (e quando digo sempre, digo desde que passei a gostar de ouvir fado, sim, porque há coisas de que para se gostar é necessária uma certa maturidade), que o fado e as palmas são duas coisas que não combinam. Será que aquela gente nunca ouviu a expressão "silêncio, que se vai cantar o fado"? Saberão diferenciar um fado duma marcha popular? Parece que não. E tanto parece que não que as palmas duraram até à terceira parte do concerto, quando entra em palco, grandioso, Carlos do Carmo, com a sua voz assombrosa e que com essa mesma voz fez questão de, com muito jeitinho, dar uma reprimenda àquela gente toda e explicar exactamente aquilo que eu estava a pensar - que o fado não se acompanha com palmas! Tanto quanto sei, esta não é uma questão pacífica. Já ouvi outros grandes fadistas incentivarem o público a bater palmas para acompanhar (Ana Moura, por exemplo). Pessoalmente, considero que o referido ruído retira muita da beleza melódica que existe no fado. Retira paixão e retira mistério a esta canção que de forma tão grandiloquente nos fala dos sentimentos profundos da alma portuguesa.
Do concerto apenas consegui filmar uma pequena parte porque depois fiquei sem bateria (como já é hábito...) e além disso o vídeo ficou com uma qualidade péssima quer no som quer na imagem, por isso não publico aqui. Mas para fazer a vontade ao meu marido que veio do concerto cheio de pena porque o Carlos do Carmo não cantou o fado "Estrela da Tarde", aqui fica.





O vídeo acima vale pela música e não pelas imagens, mas não encontrei melhor e ainda não aprendi a colocar só as músicas sem os vídeos...

6 comentários:

João Roque disse...

O teu marido tem muito bom gosto, pois, no meu entender, "Estrela da Tarde" é o mais belo fado de Carlos do Carmo. Já o pus no blog umas 3 vezes...

maria disse...

Gosto de Carlos do Carmo e gosto imenso de Estrela da Tarde :)

Gosto de alguns fados e de alguns fadistas, mas nem sempre, e desde que fui a um jantar de aniversário num restaurante em que se comia ao som do fado cantado ao vivo, à média luz, com muitos pedidos de silêncio à mistura e quase sem nos podermos levantar da mesa, fiquei um bocadinho farta de fado...enquanto me lembrar desta experiência nada me convencerá a ouvir fado tão depressa...

Mas ao ler-te imagino que deve ter sido um concerto e um momento muito agradável :)

Beijinho :)

KarenB disse...

Olá Pinguim!

Comecei a apreciar fado há muito pouco tempo, cerca de 2, 3 anos, e por isso, não conhecia bem esse fado. Não me era totalmente estranho, mas não posso dizer que conhecia. Ainda tenho muito que aprender... Mas esta é exactamente uma das vantagens (entre muitas outras) de viver com um homem mais velho, eheheh.
Mas é, de facto, muito belo. E mais belo ainda quando interpretado por Carlos do Carmo.

Beijinho

KarenB disse...

Olá maria!

Foi de facto um concerto muito agradável, mas nada se compara à experiência de que falas - o tal fado cantado ao vivo, à média luz, com os fadistas ali bem perto de nós. Ao contrário de ti, e apesar de também ser uma pessoa um pouco impaciente e irrequieta, prefiro uma casa de fados a um concerto na rua, que também tem o seu encanto, mas aí o que me incomoda é exactamente o facto de não existir silêncio - as pessoas falam, batem palmas, as crianças choram, as mães berram com os filhos, enfim... Foi o que se arranjou quando a carteira não pode mais...! Lol.
Mais do que ouvir fado, é preciso viver o fado para gostar de se estar numa casa de fados.
Mas compreendo, talvez o teu estado de espírito não fosse o melhor nessa noite para a ocasião. Vais ver que para a próxima vais gostar! E se gostas de fado, não deixes de dar essa oportunidade a uma nova experiência, quiçá não num jantar cheio de gente e apenas com alguém ao lado que te diz muito (pode ser o marido, namorado, o pai...).

Beijinhos

Teté disse...

Pois, com a minha maturidade, deu-me para gostar de... R&B e jazz! :)))

Não posso dizer que não gosto de fado - ao contrário da Maria, gosto mais de ouvi-lo em casas de fado, que têm o ambiente adequado para ouvirmos o poema e nos contagiar com a magia das vozes trinadas... e, claro, sem palmas a atrapalhar durante a actuação!

Agora convenhamos que, num aniversário de alguém, ir para um local em que todos têm de ficar calados, não me parece o festejo mais adequado. ;)

Esta "Estrela da Tarde" é uma música muito bonita! :)

Beijocas!

KarenB disse...

Teté,

Pois, também concordo contigo, tal como tinha dito à maria.

Também gosto de jazz. R&B não posso dizer que gosto ou não, porque conheço pouco, à excepção de Ray Charles, de quem gosto muito.

Beijinhos