quarta-feira, 13 de abril de 2011

Mano,


Eras ainda tão criança quando vieste viver comigo... Quer dizer, já não eras assim tanto, mas era-lo para mim e creio que aos meus olhos sempre o serás - assim, o meu pequenote. Tão inocente, tão frágil, tão inflluenciável... E uma vida inteira, um mundo inteiro à tua espera. Por vezes altivo e muito seguro de ti - eras assim, às vezes. E como eu gostava quando revelavas essa tua faceta - temos homem, pensava eu.
Tivemos as nossas zangas, é verdade. Personalidades invariavelmente diferentes (ou será que em determinados aspectos, demasiado parecidas?). Tivemos momentos de ruptura, também. Ias embora, decidias tomar sozinho as rédeas da tua própria vida. Eu esperava... Observava-te de longe, de um longe que sempre se ia fazendo perto.
Sabes que tenho um feitio difícil, mas sempre te dei o melhor de mim. E dei-to mesmo quando me vias como a pior pessoa do mundo, porque os meus comportamentos talvez assim me revelassem. Desde o início que senti que tinha de me demitir do meu papel para assumir um qualquer outro. Já não eram apenas as brigas e brincadeiras de infância. Era muito mais do que isso. Era uma preparação para a vida que te queria dar, quando sabia eu própria não estar ainda preparada para ela. Era o melhor do mundo que te queria dar, quando sabia ser impossível e me sentia atingida de todas as formas por esse mundo na sua faceta mais injusta. Cometi erros também. Fui egoísta por vezes. Mas estive lá. Estive sempre lá, com as minhas melhores qualidades e os meus piores defeitos. Com muitas dificuldades para enfrentar e passando por cima de outros tantos, o que era para mim, era para ti também.
Fui eu quem te ensinou a limpar a casa que ambos sujávamos. Ui, o meu mau feitio, lembras-te? Fui eu quem te ensinou a passar e a lavar a tua própria roupa. E só nós sabemos como às vezes foi difícil... Era eu quem se preocupava e insistia para que jantasses enquanto eu ia para as aulas à noite. Era eu quem cozinhava no fim-de-semana (num fogão de dois bicos) e congelava a comida em porções para que te alimentasses quando não estavas comigo. Era eu quem se preocupava em saber se ias às aulas ou teimavas em ficar na cama a dormir, com as desculpas típicas de adolescente preguiçoso. Era eu quem insistia para que estudasses e não jogasses tanto no computador, na nintendo, depois na playstation... Era eu quem se preocupava em saber se já tinhas chegado à escola, e ao fim do dia se já tinhas chegado a casa, obrigando-te a enviares-me um sms. Era eu quem controlava as horas a que voltavas para casa quando começaste a sair à noite. Era o meu coração que pulava sempre que não estavas ao pé de mim e não me atendias o telemóvel... Era, fui e sou eu quem tantas outras coisas fez e faz por sentir um amor incondicional.
Hoje, olhando para trás, acredito que teria sido infinitamente mais fácil se não nos faltassem algumas peças no puzzle, se tivéssemos falado mais e consequentemente mais cedo tivéssemos conseguido um melhor conhecimento um do outro (lá estou eu com a minha mania de ser impaciente e querer sempre as coisas antes do seu devido tempo... - se é que há um tempo apropriado para as coisas acontecerem..., mas neste caso acho que sim).
Hoje, olhando para trás, sei porque tantas e tantas vezes não conseguia chegar a ti, ou tu a mim...
Tu cresceste, claro. Cresceste tanto... E como eu gostava de pensar que cresceste com um pouco da minha ajuda. Como eu gostava de pensar que cresceste com um pouco de mim espelhado em ti. Veleidades minhas... Eu também cresci. E não apenas ao teu lado. Também eu cresci e aprendi contigo.
Acredito que os laços que nos unem são inquebráveis. Já o eram, por definição, desde sempre. Mas a nossa experiência pessoal fortaleceu-os, fez deles algo muito nosso, muito do nosso íntimo. Hoje és um miúdo inteiro e são. Orgulho-me do que és e gosto que sejas meu.
Chovam mais ventos e outras tantas tempestades, porque juntos somos fortes.


12 comentários:

Anónimo disse...

Obrigada pelo comentário, Karen!
Gostei muito deste texto que li. É muito bonito mesmo (:

Beijinho*

João Roque disse...

Amor de irmão é isto mesmo...
Muito belo.

Sapo disse...

Não te arrependas de nada KarenB. A tua postura só, apesar das peripécias, fortaleceu a tua relação. Percebo-te muito bem :)
Nota-se ao longo do texto, o teu carácter altruísta. Guarda-o. É algo cada vez mais raro.
Até já ;)

ψ Psimento ψ disse...

Olá, que bom ver-te por cá rendida às maravilhas da blogosfera, parece que a nossa interacção não vai ser só pelo questionários afinal ehhehe.
Quanto a este post, mas que bela homenagem que fizeste ao teu mano. Não tem como ele não ficar babado. De certa forma também me revi aqui porque sou o mais velho de três irmãos e por vezes senti que me eram dadas responsabilidades para com eles maiores do que eu poderia suportar na idade que tinha. Mas de qualquer forma tudo correu bem e agora são memorias que guardo. Também cometi alguns erros com eles e temos as nossas desavenças mas damo-nos todos bem e quando um precisa cá estão os outros para ajudar. :)
Fico Feliz por vos ver assim, cumprimentos a ambos e espero que sejas assídua por cá. É que há pessoas que fazem para aí um “post” por mês com sorte :p

Anónimo disse...

É exactamente isso Karen xD O defeito está no gene, nada que possamos controlar, por isso.. Amanhem-se :b

Sim, é muito difícil mesmo.

Beijinho*

KarenB disse...

Francisca, muito obrigada pelo teu comentário também.
E já agora, ainda bem que gostaste.
Beijinho

KarenB disse...

Pinguim,
Mas as minhas palavras ficam tão aquém do que me vai na alma...

KarenB disse...

Sapo, muito obrigada pelo teu carinho...

KarenB disse...

Olá Psi!!!
Pois é, afinal parece que não... E ainda bem.
Sim, rendi-me, mais uma vez. A verdade é que já há muito tempo que conheço a blogosfera e inclusivé já tive um outro blog (que começou em 2006), mas retratava uma fase menos boa da minha vida e decidi não continuar. Ainda fico deprimida quando lá vou, sabes. Lol.
Quanto ao post, o meu pequeno ainda não o leu. Ele há-de se pronunciar...
Só quem tem irmãos compreende este amor...
E que bom que também tens uma relação assim especial com os teus irmãos.
Obrigada pela visita e pelo comentário e sim, vou tentar ser assídua. Abraço

Joana Castro disse...

Que bonito, Karen!
relações especiais são sempre especiais.

KarenB disse...

Maria Joana,
Pois é...
Obrigada pelas palavras.
Beijinho

My memories haunt me disse...

Como é que é possível eu ler isto e não ficar emocionado?
Este teu testemunho é daquelas coisas para guardar aqui neste meu coração pequeno.

Sabes bem por tudo o que passamos. E nada do que eu diga pode descrever tantos momentos e tantas situações.

Fica então aqui um beijo virtual, pois na realidade já te dei um abraço e outros tantos beijos. E aqui estou eu perto de ti. Agora e sempre. :)