sexta-feira, 29 de julho de 2011

O Glorioso



Legenda: Chegada dos jogadores do Benfica para o jogo de apresentação da época 2011/2012.


E assim vos desejo um excelente fim-de-semana!

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Afinidade(s) ou... uma curiosidade jurídica


Há dias, uma troca de comentários com a Nina deu-me ideia para escrever o texto que se segue.
Como qualquer bom jurista, gosto de discutir qualquer assunto e gosto especialmente de uma boa discussão. Tudo ou quase tudo o que esteja relacionado com as artes do Direito desperta o meu interesse, a minha curiosidade e um "gostinho" por saber sempre mais. Por isso, várias vezes, a propósito de uma notícia no telejornal, de algo que leio, de uma conversa informal com um amigo ou até mesmo de um qualquer episódio da vida que observo, dou por mim a pensar no assunto em termos técnicos, a pesquisar mais qualquer coisa, a relembrar o que estudei na faculdade. É um "bichinho" que adquiri durante o curso e que me ensinou a analisar a realidade daquilo que nos rodeia com outros olhos.
Pois bem, a minha conversa com a Nina despertou o tal "bichinho" e o assunto está relacionado com as relações de afinidade.


Determina o artigo 1584º do Código Civil que a afinidade "é o vínculo que liga cada um dos cônjuges aos parentes do outro". Assim, quando falamos da sogra e do sogro, da nora e do genro, da enteada e da madrasta, entre outras, é de relações de afinidade que estamos a falar.
Até há bem pouco tempo atrás, determinava também o artigo 1585º do mesmo Código que "a afinidade determina-se pelos mesmos graus e linhas que definem o parentesco e não cessa com a dissolução do casamento". Ora, convém dizer desde já, para a coisa ficar bem explicadinha (e sem querer entrar nas causas de invalidação do casamento, que igualmente levam à sua extinção),  que as formas de dissolução do casamento são apenas duas: a morte de um dos cônjuges e o divórcio entre eles.
Ora, com isto, estão a ver, sogra uma vez, sogra toda a vida... 
Felizmente, ou não, a tão famosa lei 61/2008, de 31 de Outubro, que veio alterar o regime jurídico do divórcio e que tanto deu que falar (com direito a veto presidencial pelo meio...), veio alterar esta situação, acrescentando duas palavrinhas  - "por morte" - ao supra citado artigo 1585º do Código Civil, que ficou assim: "a afinidade determina-se pelos mesmos graus e linhas que definem o parentesco e não cessa com a dissolução do casamento por morte". Ora, não é necessário um grande esforço interpretativo para daqui se retirar a seguinte conclusão: actualmente, as relações de afinidade cessam quando a causa de dissolução do casamento é o divórcio, mantendo-se no caso do casamento se dissolver por morte de um dos cônjuges. E isto, quer estejamos a falar de um casamento celebrado hoje ou de um casamento celebrado anteriormente à referida alteração legislativa (dispensam-se explicações técnicas sobre esta parte, para não "maçar" quem lê).

Até pode fazer sentido que as relações de afinidade se mantenham no caso de dissolução do casamento por morte de um dos cônjuges. Seja um certo "pudor social" a falar ou não, mas a verdade é que nesses casos, normalmente, o falecimento de um dos cônjuges não faz cessar as relações do sobrevivo com os parentes do finado. Mas manter aquele vínculo nos casos de divórcio... faria sentido? E eliminá-lo?

E perguntam vocês, e bem, mas que importância tem tudo isto? Tem, e muita. Vou-vos dar um exemplo.
Anteriormente à referida lei, o jovem Pedro Passos-Portas decidia divorciar-se da mulher, a igualmente jovem Andreia Madalena Custódio de Oliveira Benquerença Seabra Vaz Pinto Passos-Portas porque esta, apenas preocupada com a sua ascensão profissional, não vinha cumprindo os seus deveres conjugais (essencialmente na parte da comunhão de leito). Coincidência ou não, o jovem Pedro Passos-Portas já vinha há algum tempo a fazer "olhinhos" à sua muito bem conservada sogra, a Sra. Dona Beatriz Maria Custódio de Oliveira Benquerença Seabra Vaz Pinto ("olhinhos" esses que eram retribuídos, pois claro). Ora, o jovem Pedro Passos-Portas, já divorciado, não poderia casar-se com a sua sogra, pois uma vez que a relação de afinidade se mantinha apesar do divórcio, a mesma constituía também um impedimento dirimente relativo (nos termos do artigo 1602º, alínea c) do Código Civil), obstando assim ao casamento daqueles dois seres enamorados. 

Outro exemplo, este, talvez um pouco mais rebuscado, mas igualmente possível, e que tanto poderia acontecer anteriormente à nova lei do divórcio como posteriormente a ela, na actualidade: a mulher, Gisberta Cócegas, e o marido, Arlindo Cócegas, vivem numa casa arrendada cuja proprietária e senhoria é a Dona Jovita Quitéria, uma senhora muito rica da aldeia da Gisberta Cócegas (que por sinal fica muito próxima da aldeia donde é natural o Arlindo Cócegas) e que, por ser muito meticulosa e "esquisitinha" até, só havia arrendado a sua casa à menina Gisberta Cócegas por ter sido professora dela na escola primária e saber que era boa pessoa e de boas famílias e essas coisas todas. Fez até questão que o contrato de arrendamento ficasse apenas em nome da menina! Ah, já agora, diga-se de passagem que a Dona Jovita Quitéria também só arrendou a sua casa porque vivia no andar de cima do mesmo prédio e assim podia "controlar" as coisas. Com Arlindo Cócegas e Gisberta Cócegas veio viver, há mais de um ano (que é como quem diz, veio passar férias e nunca mais de lá saiu), a "mãezinha" do Arlindo Cócegas - a Sra. Dona Ludovina Calhota que, por ser muito "linguaruda" e conhecida na terra por "bicicleta" (por levar as notícias das vidas de toda a gente de porta em porta), sempre teve com a Dona Jovita Quitéria uma relação de um certo "ódiozinho de estimação", pois a Dona Jovita Quitéria era uma senhora muito correcta e nunca se meteu em intrigas. Infelizmente, o casal Cócegas falece num fatídico acidente de automóvel quando decidiram finalmente, ao fim de tantos anos, gozar a sua lua-de-mel em Quarteira. E depois? - perguntam vocês. E depois, supondo que não existem outros parentes mais próximos, porque o casal não tinha filhos, porque a Dona Ludovina Calhota até era viúva e os pais de Gisberta  Cócegas já tinham falecido, o arrendamento pode muito bem transmitir-se para... a Sra. Dona Ludovina Calhota, pessoa "tão cara" à senhoria e proprietária da casa, a Dona Jovita Quitéria. Claro que isto não tem mal nenhum, a não ser para a Dona Jovita Quitéria, a quem lhe esperam ainda muitas chatices e muito dinheiro gasto com serviços de advogados para conseguir tirar de lá a Sra. Dona Ludovina Calhota, que até "embirrou" que agora é que não saía mesmo. Quanto muito, a Dona Jovita Quitéria só terá de "levar" com a Sra. Dona Ludovina Calhota, a "bicicleta", durante uns (bons) tempos (anos, quiçá!). E porquê, porque a Sra. Dona Ludovina Calhota é afim da menina Gisberta Cócegas e o artigo 1106º do Código Civil determina que este é um dos efeitos da afinidade.

Se esta alteração ao artigo 1585º do Código Civil, produzida pela nova lei do divórcio, faz sentido? Até faz. Mas os efeitos perversos desta questão estão longe de ser eliminados. 
Agora o marido já pode casar com a sogra, ou a mulher com o sogro, uma vez divorciados. Até nos parece bem, certo? Exista amor e ao mesmo não devem ser colocadas barreiras, porque o amor é para ser vivido, e vivido na sua plenitude. Mas agora reparem num outro exemplo: a Sra. Benvinda Pedrelica, mãe afectiva do menino Miguel Zonga, sua madrastra, portanto (e a quem criou quase desde pequenino), vinha sendo muito maltratada pelo marido (entenda-se, ele nunca lhe dava atenção). Então, decide divorciar-se, e fá-lo. Claro que para fazer face aos "maus tratos" a Sra. Benvinda Pedrelica vinha nos últimos tempos "procurando colo" nos braços do menino Miguel Zonga, que já não era nenhum menino, e a quem os colegas da faculdade diziam que tinha uma madrasta que era "uma brasa". Agora, com a nova alteração legislativa, a Sra. Benvinda Pedrelica, que sempre teve "um fraquinho" oculto por homens mais novos, vai casar com o menino Miguel Zonga... Com a nova alteração legislativa deixou de existir a relação de afinidade entre ambos, é certo, mas a Sra. Benvinda Pedrelica não deixou de ser aquela que sempre foi a sua mãe afectiva... Bizarro? Mas agora,  possível.

sexta-feira, 22 de julho de 2011

In my secret life


Leonard Cohen - In my secret life


Durante algum tempo, tempo demais compreendemos hoje, tivemos a nossa "secret life", onde ambos sentíamos a falta do outro e onde mesmo depois de cada inevitável partida, permanecias em mim e eu em ti. 
Hoje, estamos onde sempre deveríamos ter estado e gritando ao vento o nosso amor, marcharemos juntos pela manhã, marcharemos juntos pela noite e atravessaremos todas as fronteiras.
Te amo.

terça-feira, 19 de julho de 2011

Estado de graça relativamente ao novo governo??? Só para quem não lê o DR (entre outras coisas)

Por razões profissionais, leio o Diário da República todos os dias e... encontro disto:

Excerto do Diário da República n.º 137, Série II, de 19-07-2011:



  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação de Natércia Rodrigues Barreto para exercer funções de secretária pessoal do Ministro da Administração Interna (Uma)


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação de Maria Dinis Lopes Ferreira dos Santos para exercer funções de secretária pessoal do Ministro da Administração Interna (E com esta já são duas.)


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação da licenciada Rita Vieira Lisboa Abreu Lima para exercer funções de chefe do Gabinete do Ministro da Administração Interna


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação de Nazaré Rosa Maria de Sousa Alves para exercer funções de secretária pessoal do Ministro da Administração Interna (E lá vão três...)

  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação de Maria Helena Simões Pinto Palma para exercer funções de secretária pessoal do Ministro da Administração Interna (Agora já dá para jogarem à sueca.)


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação do licenciado Pedro António Rodrigues Esteves para exercer funções de adjunto do Ministro da Administração Interna


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação de Maria Fernanda Domingues Pereira Gonçalves para exercer funções de apoio administrativo ao Ministro da Administração Interna (E eu que pensava que eram as secretárias que apoiavam administrativamente o Ministro... Ou será que é para compensar alguma jogadora que venha a demonstrar-se "batoteira"?)


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação do licenciado Luís Miguel Pereira Farinha para exercer funções de adjunto do Ministro da Administração Interna


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação da licenciada Susana Maria Farias Freitas Quaresma para exercer funções de assessora do Ministro da Administração Interna


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Ministro
    Nomeação de Rui Manuel Estêvão Ventura para prestar apoio aos gabinetes dos membros do Governo integrados no Ministério da Administração Interna (Que tipo de "apoio" será??)


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Secretário de Estado da Administração Interna
    Nomeia para exercer funções de chefe de gabinete do Secretário de Estado da Administração Interna o licenciado Tiago Sampaio Melo Marques Leite


  • Ministério da Administração Interna - Gabinete do Secretário de Estado da Administração Interna
    Nomeação de Ana Rita Poppe Leite Pereira de Seabra Vaz Pinto para exercer funções de secretária pessoal do Secretário de Estado da Administração Interna (Vê-se mesmo que é de famílias ditas... humildes.)


  • Despacho n.º 9151/2011. D.R. n.º 137, Série II de 2011-07-19
    Ministério da Administração Interna - Gabinete do Secretário de Estado da Administração Interna
    Nomeação de Maria Filomena Fernandes Fevereiro Assunção para exercer funções de secretária pessoal do Secretário de Estado da Administração Interna 



  • segunda-feira, 18 de julho de 2011

    O que penso e não (te) digo




    Sem (querer) pensar, pensei.  
    Pensei e penso muitas vezes em ti. Não há dia que me não venhas ao pensamento. Não há noite em que adormeça sem te recordar, sem nos recordar, os nossos momentos, as nossas conversas, o nosso sentir do antigamente. Mas não quero pensar, porque me magoa, porque a cada vez que te lembro e aos teus abraços, é mais uma brecha que se abre nesta ferida que não sara.
    Sem falar (o que queria), falei.
    Falei e disse o que pude, porque mais não me permitiste. Não me deste sequer a oportunidade de apresentar as minhas justificações, se as mesmas existissem. Falei, mas o que disse na altura não é o que diria agora. Falei, mas falei pouco. Não falei o suficiente para te admitir que errei, apenas pedi desculpa sem  entender muito bem porque o fazia. Hoje entendo, e queria dizer-te mais.
    Sem escrever (para ti), escrevi. 
    Escrevi e escrevo sempre que a vontade de te falar hoje, agora, sempre que a saudade aperta mais um pouco. Escrevo e finjo que me lês. Ensaio diálogos, possíveis respostas, que sei que não obterei tão cedo ou mesmo que não obterei. Mas não escrevo para ti, não penses. Escrevo para mim. Magoaste-me tanto que não te daria esse conforto, que guardo só para mim - o conforto de saberes o que sinto, e o que sinto por ti (se bem que ainda acredito que o saberás...).
    Sem perdoar (porque não esqueço), perdoei.
    Perdoei desde sempre, porque de outro modo não poderia ser. O que nos liga é demasiado forte, demasiado sagrado, demasiado intrínseco a cada um de nós para que assim não fosse. Se guardo ressentimento? Ainda guardo. Não consigo compreender o que te levou a agir de tal forma. Procuro inverter os papéis, recuar atrás no tempo e lembrar-me de quem és, como és e não entendo, porque nada em ti faria prever um tal comportamento.
    Magoa-me que hoje, pai, não saibas quem sou.
    __________________

    agora, e para não vos deixar a todos meio deprimidos logo à segunda-feira com o que acabei de escrever, alguém adivinha onde é que a foto foi tirada? lá, é muuuuito fácil!

    sexta-feira, 15 de julho de 2011

    Sugestões para gulosos

    Porque este blog não seria meu se não revelasse também esta minha faceta, hoje resolvi partilhar dois miminhos para o paladar. Gosto de cozinhar e gosto especialmente de me enfiar na cozinha e fazer doçarias quando a vida não me corre de feição. Não sei porquê, mas é algo que me distrai. Assim, aqui ficam, para quem quiser experimentar, duas receitas tão rápidas e fáceis de fazer quanto saborosas.

    Bolo de Banana e Canela


    Ingredientes: 
    - 3 ovos
    - 3 colheres de sopa de margarina
    - 2 chávenas de açúcar
    - 1 chávena de leite
    - 3 bananas maduras
    - 2 chávenas de farinha
    - 2 colheres de chá de canela

    Preparação:
    Numa tigela, colocar os ovos, o açúcar e as três colheres de sopa (bem cheias) de margarina previamente derretida. Mexer bem até formar um creme liso, fofo e homogéneo.  Acrescentar a farinha e o leite e mexer novamente até formar uma massa bem consistente.
    Entretanto, num outro recipiente, colocar as bananas e passá-las com a varinha mágica. Acrescentar este preparado à outra massa. 
    Por fim, polvilhar a massa com as duas colheres de chá de canela e mexer novamente para misturar.
    Vai ao forno (previamente aquecido durante 10 minutos), numa forma previamente untada de margarina e polvilhada de farinha. Deixar cozer durante aproximadamente 45 minutos ou até que ao ser espetado por um palito, este saia limpo.
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    Fiz o bolo no sábado à noite e na segunda-feira à tarde já não havia nada. O meu marido diz que ficou de comer e chorar por mais e a minha sogra, a quem convidei para vir lanchar no domingo, lá me elogiou dizendo que eu era muito prendada.
    Na foto, o bolo ficou ali com um buraquinho porque apesar de ainda estar a arrefecer, alguém estava cheio de pressa e já não consegui apanhá-lo inteiro para o fotografar. 


    Tarte de Maracujá


    Ingredientes:
    - 1 pacote de bolacha Maria
    - 150 g de manteiga
    - 1 lata de leite condensado
    - 1 gelatina de frutos tropicais
    - 1 lata de polpa de maracujá

    Preparação:
    Para a base: Num recipiente fundo, colocar as bolachas e parti-las com a mão em bocadinhos pequeninos. Em seguida, ralar as bolachas com a varinha mágica e acrescentar a manteiga, previamente derretida. Amassar muito bem as bolachas e a manteiga até formar uma massa dura. Forrar uma tarteira com essa massa e levar ao frigorífico enquanto se prepara o creme.
    Para o recheio: Preparar a gelatina de frutos tropicais conforme as instruções da embalagem, mas usando apenas metade da água (250 ml). Levar ao congelador para arrefecer mais rápido, mas não deixar solidificar!
    Num recipiente, colocar a polpa de maracujá (eu não a usei toda para não ficar com muitas sementes) e adicionar o leite condensado e mexer bem para misturar tudo. Juntar a gelatina, depois de ter arrefecido. Verter este preparado sobre a base de bolacha e levar ao frigorífico para solidificar.
    Para dar um toque especial, decorar a tarte com um pouquinho de polpa de maracujá (eu fiz uma pequena flor,como podem ver na foto, mas admito que não ficou lá grande coisa...).
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    Mais uma vez, o maridote, que é todo cheio de manias das comidas saudáveis e das dietas e porque fica com barriga quando come doces e blá, blá, blá, não se fez rogado. Gostou muito e eu também gosto porque é um doce fresquinho e nada enjoativo.

    quarta-feira, 13 de julho de 2011

    Diálogo entre pai e filha



    - Té, sabes o que me pediste certa vez, quando eras pequenina, para receberes pelo Natal?
    - O que foi?
    - Pediste-me um escravo, filha...
    - Um escravo?! E tu, o que é que me disseste?
    - Oh filha, então, conversei contigo e tentei explicar-te que a escravatura era uma coisa má.
    - E eu, o que é que eu disse?
    - Ficaste a olhar para mim, não disseste nada..., por isso acho que deves ter percebido...
    - Hum...

    Assisti a este diálogo entre duas pessoas muito próximas de mim e achei simplesmente amoroso. As coisas de que só as crianças se conseguem lembrar e a sua inocência que tantas vezes nos faz rir... A doce memória que os pais guardam dos seus filhos enquanto crianças... A ternura que se sente quando essas histórias são lembradas e contadas pela primeira vez ao filhos quando crescem, para não mais se esquecerem... 

    terça-feira, 12 de julho de 2011

    O fado não se acompanha com palmas!


    Como cá em casa não somos excepção e a crise também se vai fazendo sentir, eu e o meu marido, que tanto gostamos das nossas saídas nocturnas, de jantar fora e sair com os amigos, ultimamente, com as finanças pelas ruas da amargura, temos procurado programas alternativos para ainda assim desanuviar um pouco a mente e os olhos dos noticiários que nos enchem a casa de más notícias todos os dias.
    Assim, no passado dia 30 de Junho, lá fomos até à Alameda D. Afonso Henriques, que por sinal fica quase aqui ao lado (até na gasolina conseguimos poupar!), assistir ao concerto de encerramento do programa das Festas de Lisboa deste ano. Estava uma fantástica noite de Verão e ouvir fado debaixo de um manto de estrelas, abraçados ao nosso "mais que tudo", só pode ser um bom programa. O concerto em causa contou com a presença de três incontornáveis referências no mundo do fado - Cristina Branco, Camané e Carlos do Carmo, a que se aliou a Orquestra Metropolitana num momento único de celebração. Ora, num ano em que ainda se há-de decidir a candidatura do Fado a património cultural imaterial da Humanidade, foi uma bela e justa homenagem.
    Pessoalmente gostei do concerto. Teria gostado ainda mais, não fossem as palmas constantes da plateia a acompanhar os fados mais ritmados. Não sei porquê, mas sempre me disse a minha sensibilidade (e quando digo sempre, digo desde que passei a gostar de ouvir fado, sim, porque há coisas de que para se gostar é necessária uma certa maturidade), que o fado e as palmas são duas coisas que não combinam. Será que aquela gente nunca ouviu a expressão "silêncio, que se vai cantar o fado"? Saberão diferenciar um fado duma marcha popular? Parece que não. E tanto parece que não que as palmas duraram até à terceira parte do concerto, quando entra em palco, grandioso, Carlos do Carmo, com a sua voz assombrosa e que com essa mesma voz fez questão de, com muito jeitinho, dar uma reprimenda àquela gente toda e explicar exactamente aquilo que eu estava a pensar - que o fado não se acompanha com palmas! Tanto quanto sei, esta não é uma questão pacífica. Já ouvi outros grandes fadistas incentivarem o público a bater palmas para acompanhar (Ana Moura, por exemplo). Pessoalmente, considero que o referido ruído retira muita da beleza melódica que existe no fado. Retira paixão e retira mistério a esta canção que de forma tão grandiloquente nos fala dos sentimentos profundos da alma portuguesa.
    Do concerto apenas consegui filmar uma pequena parte porque depois fiquei sem bateria (como já é hábito...) e além disso o vídeo ficou com uma qualidade péssima quer no som quer na imagem, por isso não publico aqui. Mas para fazer a vontade ao meu marido que veio do concerto cheio de pena porque o Carlos do Carmo não cantou o fado "Estrela da Tarde", aqui fica.





    O vídeo acima vale pela música e não pelas imagens, mas não encontrei melhor e ainda não aprendi a colocar só as músicas sem os vídeos...

    sexta-feira, 8 de julho de 2011

    Ser outra que não eu


    Ao longo da vida, e por diversas vezes, já fui outra que não eu. Hoje, sinto que também para ti, sou por vezes outra que não eu. Sim, eu sei ser essa outra, mas não quero, quero ser eu. Sim, gosto da comodidade, da grandeza que essa outra me proporciona, nos proporciona. Mas essa outra, também faz daquela que sou eu, uma mulher amarga, fria e distante. E no final de contas, no momento final, talvez seja com as coisas mais comezinhas que me identifico. E no final de contas, no momento final, talvez seja aquela que sou eu, meiga, carinhosa, dedicada, a quem preferes. Na verdade, não estaria a ser sincera, antes de mais comigo própria e também contigo, se não confessasse aqui que me sinto a viver numa espécie de limbo. E se queres que te diga, sinto um certo embaraço por me sentir assim e por me ver obrigada a admiti-lo. Esta é a parte de mim que acho que ainda não cresceu. No entanto, dei talvez o passo maior do que a perna e assumi, ainda que implicitamente, não só para ti, mas sobretudo para mim de que seria capaz. Terei falhado? Sim, falho a cada dia que passa ao não tomar uma decisão, ao não "agarrar o touro pelos chifres" e seguir em frente. Esta, talvez seja outra ainda, que não eu, e que não aquela outra de que falo. Conheço bem este meu sentir. Sei aonde ele me leva, se não parar agora. Sinto-me só. Sei que estás incondicionalmente ao meu lado, mas sinto-me só, sim. E sinto-me só sempre que abraço a porta do erro, sempre que transponho as portas do incerto. Não procures alcançar-me, não é presunção, mas sei que não o conseguirás, pois sei o quão firme e intransponível é esta concha em que me fecho às vezes. Para aliviar a tua preocupação, digo-te que sei o que quero. Sei. Já experimentei essa outra vida e apesar de mais humilde do que aquela outra, éramos felizes. Mas essa outra vida parece agora tão distante que talvez não lhe consiga chegar novamente no espaço de tempo que precisamos. Provavelmente acabarei por me resignar a uma das opções que "estão mais à mão". Preciso da tua ajuda. Não quero que trilhes por mim os caminhos que eu própria terei de trilhar, mas preciso da tua ajuda. Sê duro comigo, se necessário for. Às vezes preciso que sejam duros comigo. Dá-me tempo, mas não demasiado tempo. O tempo, a espera, imobilizam-me os pensamentos e as acções e talvez me façam ficar ainda mais tempo sem sair do mesmo lugar. Quero voltar a ser aquela outra, uma outra qualquer que nem sei bem qual, mas outra que não eu agora. Uma outra mais activa, mais decidida, mais consequente, mais certa de si e do que quer. Já conheci essa outra, ou eu. Gosto dela, faz-me sentir bem, faz-me ser mais feliz e mais feliz contigo. Mas agora, já não sei se sei como lá chegar. Não penses que estou acomodada e que me resigno às minhas fraquezas, às minhas incertezas. Talvez precise de mais tempo do que o comum dos mortais, tempo que sei que não tenho, que não temos, um tempo que corre apressado, esmagando mais um pouquinho da nossa felicidade a cada passo. Talvez precise de me embriagar para ser essa outra que não eu. Se quando acordar formos plenamente felizes, é essa a solução, a solução para passar o tempo que terá de passar até que se faça luz e eu volte a ser aquela outra, eu, com a qual me sinto bem e a quem tu amas.



    Portishead - Roads

    segunda-feira, 4 de julho de 2011

    Tia Maria



    Por vezes, dou por mim a pensar na morte daqueles que me são mais queridos. Imagino as diversas circunstâncias em que poderá ocorrer, o que eu faria nesse momento, como ficaria sem eles. Nesses momentos, sinto um sofrimento e um medo aterradores. Não sei porque o faço. Talvez inconscientemente me esteja a preparar para um dia enfrentar o facto de que os vou perder. Talvez estes pensamentos me façam dar mais valor ao que sinto por cada um deles, talvez me façam querer aproveitar melhor a vida ao seu lado. Talvez...
    Também já tinha imaginado a morte da minha tia Maria. Era uma senhora já com os seus 92 anos, muito doente há alguns anos. Sabia que me ia doer. A minha tia Maria era minha tia-avó, assim como todos os meus tios e tias, pois os meus pais não têm irmãos. Por isso, sou muito chegada a eles, porque são os meus únicos tios.  
    São muitas as recordações de infância que guardo da minha tia Maria... Durante muito tempo, enquanto era pequenina, tratava-a por "mana Maria", pois era assim que ouvia dizer à minha avó e à minha outra tia. A minha tia Maria casou-se com um senhor, o meu tio Zé, que toda a vida foi pescador. Durante muitos anos viveram os dois numa casa muito modesta na ilha de Faro, situada mesmo junto à barra, até que um dia , vencidos pela idade, se mudaram para a cidade e a casa da praia passou a ser só para férias. Por ser mulher de pescador, a minha tia Maria sabia temperar o peixe de sal como mais ninguém. Não sei porquê, mas o peixe temperado pela mão dela tinha outro sabor.
    Foi graças aos meus tios que eu acabei por nascer em Faro, apesar de toda a vida ter vivido no Alentejo. Os meus pais estavam a passar férias na casa dos meus tios e eu resolvi nascer antes do tempo previsto.
    As nossas estadias na praia de Faro eram sempre momentos de muita alegria e convívio em família. Eu, os meus pais, e uns aninhos mais tarde também o meu irmão, levávamos connosco os meus avós e a nós juntavam-se os meus primos - o único filho da minha tia Maria, a mulher dele, e os dois filhos, que são da minha idade e da idade do meu irmão. A minha outra tia, emigrante em França, vinha de férias em Agosto e também se juntava a nós. Naquela altura (e penso que agora também), chegar à ilha de Faro só era possível de barco ou a pé. Como não cabíamos todos no barco de uma vez, o meu tio ia levar uns e depois vinha buscar os outros, mas também foram muitas as vezes em que aqueles ficavam para último e tinham melhor perna acabavam por ir a pé, debaixo de um sol abrasador, tal era a desmotivação da espera que o meu tio fizesse as várias viagens. É que para além das pessoas propriamente ditas, havia as bagagens - as roupas para as crianças (e para os adultos), os brinquedos para as crianças se entreterem, a comida que tinha de se levar já a contar com vários dias, os presentes todos que a minha avó e o meu avô levavam do Alentejo para os meus tios (essencialmente frutas e legumes frescos da horta, enchidos e queijos) e ainda a quantidade monstruosa de coisas que a minha tia que vivia em França precisava sempre. Escusado será dizer que eram sacos e saquinhos que nunca mais acabavam. Naqueles dias, os almoços e os jantares eram sempre muito demorados, passávamos horas sentados à mesa, a comer e a beber, mais pelo convívio do que propriamente pela fome ou pela sede. Acordávamos cedo, pois com tudo o que havia para disfrutar lá fora, não havia tempo para dormir. Só depois do almoço, pela hora de mais calor é que quem quisesse, tinha direito a sesta. Durante o dia apanhávamos banhos de sol na ria ou no mar, conforme apetecesse (era só uma questão de se ir para a parte da frente ou para a parte de trás da casa e estava tudo ali) e dávamos longos passeios ao pôr-do-sol, a pé ou de barco. Eu, o meu irmão e os meus primos brincávamos imenso e sim, também fazíamos birras, quando calhava. Lembro-me ainda que de quando em vez ia a família toda apanhar conquilhas (as conhecidas "cadelinhas") para a praia ao fim do dia, que a  minha tia cozinhava e ficavam de comer e chorar por mais. Nem imaginam a saudade que tenho destes tempos...
    Depois, durante o ano, os convívios aconteciam no Natal e no dia de Ano Novo, na Páscoa e num ou outro aniversário. Lembro-me do ar enérgico, sorridente e brincalhão com que o meu tio Zé cumprimentava toda a gente. Irradiava felicidade e contagiava-nos com a sua alegria de viver. A minha tia Maria, mais contida, sorria e abraçava-nos a todos com um longo e apertado abraço, daqueles de quem mata saudades de há muito tempo. Antes ou depois do jantar, logo que houvesse um bocadinho que lhe permitisse deixar a cozinha, onde também estava a minha avó e a minha outra tia, a minha tia Maria sentava-se à lareira, puxava-me para o seu colo e conversava comigo. Contava-me histórias da sua infância, que eu me deleitava a ouvir, perguntava-me da minha vida na escola e do que eu queria ser quando fosse grande, fazíamos planos para as próximas férias de Verão na casa da praia. E dizia-me sempre "telefona à tia, filha", e eu, com a minha falta de entendimento da altura, lá ia faltando às promessas. Gostava da serenidade que aquela tia me transmitia, com uma maneira tão diferente de ser das outras duas irmãs, também diferentes entre si, mas em comum tinham a energia e uma certa forma de estar controladora de tudo o que se passava à sua volta. Enquanto a minha avó animava os convívios com o seu ar bem disposto, a minha outra tia era quem controlava a cozinha. A minha tia Maria, sentava-se calmamente no seu canto e ia falando com este e aquele, até ao momento de puxar os sobrinhos e os netos para o colo, com quem se entretinha a noite toda.
    Faz hoje uma semana que a minha tia Maria, a "mana Maria", faleceu.
    Lembrar-me de si, tia, é lembrar-me dos seus cabelos brancos (curtos e todos brancos, foi assim que a conheci desde sempre), é lembrar-me do seu ar angelical, da sua simplicidade no vestir, apenas adornado  por um colar curto de pérolas e uns brincos a condizer. Lembrar-me de si, tia, é lembrar-me do quanto era pequenina (a mais pequenina da família, apenas com cerca de 1,50 m), talvez por isso eu a sentisse de alguma forma mais próxima de mim quando era pequena; depois cresci, e era eu que tinha de me curvar para a abraçar. Lembrar-me de si, tia, é lembrar-me da sua voz doce, sempre muito calma, pausada e serena no falar, é lembrar-me da sua infinita bondade e que tanto lhe transparecia no olhar, nos gestos e no ser.
    Faltei às minhas promessas tia, mas vou guardá-la sempre num cantinho muito especial.